Por Carolina Delboni
12.04.23
Oie! Eu sou nova aqui e antes de entrar na nossa conversa vou me apresentar rapidamente. Me chamo Carolina Delboni, sou educadora e escritora. Me especializei em comportamento adolescente e entre os tantos assuntos dessa fase, tenho a “luta” pelos direitos das meninas como um dos meus compromissos como mulher.
Coloquei “luta” entre aspas porque não quero que o termo gere embate. A gente não tá aqui para brigar, muito pelo contrário. A gente tá aqui para conversar, trocar reflexões e pensarmos juntas. Eu acredito muito no termo “juntas somos mais fortes”, conhece?
O universo do “direito das meninas” contempla não só este como uma série de outros termos que a gente precisa compreender para se apropriar de fato. O que estou querendo dizer é que mais do que reproduzir essas palavrinhas é preciso compreendê-las. Entender onde elas nascem e o que elas querem nos dizer e provocar.
Em 2019, a Unicef fez um estudo bem interessante questionando o compromisso dos governos em tornar seus países um lugar melhor para as meninas. Isso porque a organização entende que as múltiplas violências tiram as meninas de lugares como a escola e o mercado de trabalho – direitos nossos.
O estudo também revelou que 50% das meninas entrevistadas diziam que em casa o tratamento era desigual entre elas e os meninos, fossem irmãos, primos, tios ou o próprio pai. As adolescentes entrevistadas disseram também que os governos consideram suas opiniões de forma muito limitada ao elaborarem políticas e tomarem decisões que as afetam.
Ao todo, 6 em cada 10 destacaram que os governos não as consideram nenhum pouco ou quase nenhum pouco. As meninas querem poder participar dos fóruns de decisão sobre as questões que lhes dizem respeito. E onde vocês acham que essa voz tem encontrado eco?
Dentro das escolas com os coletivos feministas. Pois é, provavelmente existe um desses movimentos na sua escola e, não sei se você faz parte, mas eles têm sido responsáveis por grande parte das mudanças nos contextos sociais que as adolescentes vivem.
Foi-se o tempo em que os grêmios eram praticamente donos das falas para um grande grupo do colégio. De alguns anos para cá, as meninas passaram a ocupar lugar de liderança nesses espaços coletivos. São elas hoje que puxam as conversas, articulam com professores e coordenadores, espalham cartazes pelas escolas, passam em salas de aula para dar recados e convocar participações.
Os espaços públicos das escolas se tornaram um grande palco de fala e escuta para as meninas que, ao se darem conta que precisavam se unir, começaram a formar coletivos feministas. E eles já são muitos.
O número não é oficial porque a Secretária de Educação do Estado não tem essa medição, mas estima-se que os coletivos estejam presentes em 90% das escolas, entre particulares e públicas.
Eliane Leite, diretora geral da Etec (Escola Técnica Estadual) Pirituba desde 2014, conta que “ainda temos um masculino muito mal trabalhado que faz com que esse menino, que está em sala de aula, reproduza o machismo que vê em casa, na televisão e nos ambientes em que circula”. E é aqui, mais uma vez, que os coletivos femininos atuam de maneira incisiva.
Outro dia escutei de um aluno de 14 anos que as meninas da escola dele eram todas feministas. A frase saiu com um tom de incômodo e foi justamente este incômodo que me deu indícios de que o movimento das meninas na escola estava deslocando os meninos dos lugares que eles sempre ocuparam.
Você consegue perceber a importância disso na sua escola? Consegue entender como é importante poder falar sem ser interrompida ou andar pela escola – e até ambientes fora dela - sem ter medo de ser importunada ou assediada por um menino? Entre os nossos direitos está o direito à liberdade e a segurança.
Direito à igualdade e educação. À liberdade de pensamento, à saúde. Saúde! Como é que a gente garante a saúde das meninas? É importante aprender sobre o corpo, o funcionamento dele, a menstruação, falar sobre ela e as mudanças todas que provocam na gente.
É importante também poder levar esses assuntos para dentro de casa e dialogar com a família. Quando a gente se apropria desse conhecimento e entende o quanto as mudanças desses comportamentos mexem com as nossas vidas, a gente acaba levando essas conquistas para os outros ambientes além da escola.
Mães, pais, avós, famílias de maneira geral também precisam aprender esse monte de palavrinhas e termos que, às vezes, parecem tão conflitantes entre gerações. Afinal, feminismo é sobre igualdade, não é sobre odiar os meninos, certo?
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