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Como Acolher na Primeira Menstruação?

Por Carolina Delboni

12.10.23




Red Moon Party ou Period Party, você sabe o que é isso?


Confesso que eu tenho uma certa resistência com essa mania contemporânea de fazer festa para tudo quanto é momento da vida. Perde-se um pouco da chance de viver a intimidade de alguns momentos e ganhe-se a dimensão dos holofotes.


O problema é que a gente já vive quase todo tempo numa espécie de "big brother", onde tudo é filmado e postado. E daí eu fico me perguntando onde estão aqueles momentos na vida em que a gente celebra pra gente, sem a necessidade de mostrar ao mundo?


Mas por que eu tô aqui filosofando? Onde eu quero chegar? Não bastassem o chá revelação do bebê e o "mesaniversário" do filho, agora existem as festas "da primeira menstruação". Invenção de americano e é o que eles chamam de red moon party e/ou period party.  


O conceito é muito diferente do que o que existe por trás da ritualização da primeira menstruação. Se a gente for estudar a História - sim, essa com letra maiúscula - vamos ver que diferentes culturas têm diferentes formas de ritualizar a passagem da menina criança à adolescência. E vamos ver também que nem sempre essas ritualizações são positivas.


O que estou querendo dizer é que existem muitos povos, muitas culturas, que comemoram a primeira menstruação da menina com rituais muito marcados, mas que são extremamente machistas e que ainda olham - e se relacionam - com a menstruação de maneira bem preconceituosa e cheia de tabus. O conceito de "mulher impura" ou "mulher suja" ainda perdura por muitas culturas. Muitas.


Celebrar a Primeira Menstruação


Mas a ideia aqui é bem diferente. Aqui a proposta é realmente celebrar, quebrar os tabus e trazer o assunto para a vida da menina de maneira mais leve, divertida, gostosa de ser vivida. E se tem uma coisa que americano sabe fazer é celebrar.  


Resolvi pesquisar mais sobre as Red Moon Parties e encontrei um vídeo ótimo no Youtube que conta a história de uma garota que quer ficar menstruada porque algumas amigas já ficaram e ela ainda não.  


Depois de um tempo esperando, fazendo exercícios para supostamente estimular a primeira menstruação, ela decide fingir que desceu. Passa esmalte vermelho num absorvente para mostrar às amigas que, finalmente, comemoram.  


A mãe dela, quando vê, percebe que é falso, mas decide dar uma Red Moon Party porque “é tradição na família”.


No TikTok, se você der uma busca pela hashtag #periodparty vai ver vários vídeos de pais montando decoração de festas: rosas vermelhas, balões vermelhos, decalques com gotas de sangue, marshmellows com calda de chocolate vermelho, cupcakes com cobertura vermelha e por aí vai.  


A proposta é mesmo ser uma festa temática e americano sabe bem fazer esse tipo de evento. Uma mãe TikToker, @tattooed_biker_girl0, recentemente postou um vídeo da filha adolescente desempacotando presentes de festa que viralizou. Nos comentários é possível ver a reação superpositiva das pessoas dizendo que também gostariam de ter esse filho inicial e apoio quando menstruam pela primeira vez.


Quebrar o tabu sobre menstruação


Na nossa cultura ocidental, o início dessas comemorações é recente e elas nascem numa tentativa dos pais de quebrar o estigma em torno da menstruação. A ideia é naturalizar o assunto que é tão cheio de tabus e silêncios. Trazer a conversa à tona, falar com mais naturalidade – até brincar - e poder se relacionar com a menstruação no começo da adolescência com mais segurança.


Isso porque não é raro as meninas começarem o período totalmente despreparadas e desinformadas e é justamente este velar que as deixa insegura e envergonhadas quando chega a “tal” semana do mês.


Paralelo a este contexto social e cultural, ainda tem o começo da adolescência. As mudanças todas no corpo, as tentativas de se reconhecer na frente do espelho, os altos e baixos da autoestima, a necessidade de pertencimento (eu quero ser como elas) e as oscilações de humor.


Ufa! Agora coloca todo esse “pacote” junto da menstruação. É neste cenário que aparecem as festas e comemorações contemporâneas e pensando, neste contexto, elas podem ser muito positivas. Podem realmente contribuir para uma mudança de paradigma cultural e social. Espero - esperamos.

 

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